quinta-feira, 11 de junho de 2009

As Conferências de Casino

A Conferência inaugural
A primeira conferência é anunciada pela “Revolução de Setembro” para sábado, 22 de Maio de 1871. Foi proferida por Antero de Quental, cujo manuscrito se terá perdido. Parece todavia que era hábito de Antero inutilizar os originais. Do seu discurso terá ficado aquilo que se convencionou chamar «Espírito das Conferências» porque não fora revelado o seu título. Há porém relatos publicados na gazeta “Revolução”.
Antero de Quental terá pronunciado o discurso de abertura das conferências e explicado a razão por que se faziam.
Todos sabiam que uma grande corrente de renovação estava agitando todas as sociedades. Era um grande movimento que se caracterizava por ninguém pedir nada ao passado e todos, universalmente, verem no presente uma época de transição para o futuro. Assim:
“Ninguém desconhece que se está dando em volta de nós uma transformação política, e todos pressentem que se agita, mais forte do que nunca, a questão de saber como se deve regenerar-se a organização social. Sob cada um dos partidos que lutam na Europa, como em cada um dos grupos que constituem a sociedade de hoje, há uma ideia e um interesse, que são a causa e o porquê dos movimentos.
Pareceu que cumpria, enquanto os povos lutam nas revoluções, e antes que nós mesmos tomemos
nelas o nosso lugar, estudar serenamente a significação desses interesses; investigar como a sociedade é, e como ela deve ser; como as nações têm sido, e como as pode hoje fazer a liberdade, e, por serem elas transformadoras do homem, estudar todas as ideias e todas as correntes do século.
Não pode viver e desenvolver-se um povo, isolado das grandes preocupações intelectuais do seu tempo; o que todos os dias a Humanidade vai trabalhando, deve também ser assunto das nossas constantes meditações.
Abrir uma tribuna onde tenham voz as ideias e os trabalhos que caracterizam este movimento do século, preocupando-nos sobretudo com a transformação social, moral e política dos povos;
Ligar Portugal com o movimento moderno, fazendo-o assim nutrir-se dos elementos vitais de que vive a Humanidade civilizada;
Procurar a
dquirir a consciência dos factos que nos rodeiam, na Europa;
Agitar na opinião pública as grandes questões da Filosofia e da Ciência moderna;
Estudar as condições da transformação política, económica e religiosa da sociedade portuguesa;
Tal é o fim das conferências democráticas.
Têm ainda elas uma imensa vantagem, que nos cumpre especialmente notar: preocupar a opinião com o estudo das ideias, que devem presidir a uma revolução, de modo que para ela a consciência pública se prepare e ilumine, é dar não só uma segura base à constituição futura, mas também, em todas as ocasiões, uma sólida garantia à ordem.
Posto isto, pedimos o concurso de todos os partidos, de todas as escolas, de todas aquelas pessoas que, ainda que não partilhem das nossas opiniões, não recusem a sua atenção aos que pretendem ter uma acção – embora mínima – nos destinos do seu p
aís, expondo pública mas serenamente as suas convicções, e o resultado dos seus estudos e trabalhos.
Lisboa, 16 de Maio de 1871 – Adolfo Coelho – Antero de Quental – Augusto Seromenho – Augusto Fuschini – Eça de Queiroz – Germano Vieira Meireles – Guilherme de Azevedo – Jaime Batalha Reis – J. P. Oliveira Martins – Manuel Arriaga – Salomão Saragga – Teófilo Braga.
Este foi o primeiro passo e um forte impulso para o movimento de ideias que um dia se traduziria em factos, em experiências, ora triunfantes ora malogradas.
Fotos:
Antero de Quental;
Adolfo Coelho;
Augusto Fischini;
Maunuel D´Arriaga