sexta-feira, 24 de abril de 2009

Deus e os filósofos – Keith Ward

Pequenas notas do Livro Deus e os filósofos de Keith Ward que anda a volta da crença de Deus, das correntes filosóficas e da ciência.
Factos da ciência e as crenças da religião
Rezar sem acreditar em Deus.
Metafísica teológica ou académica
· Raciocínio abstracto sobre a quantidade ou o número? – Não.
· Raciocínio experimental sobre os domínios do facto e da existência? – Não
David Hume ( 1711-76) – Uma pesquisa sobre a compreensão humana.
Hegel e Whitehead – livros atirados as chamas.
Tudo o que resta é a matemática e o raciocínio experimental, os dois alicerces que suportam firmemente o método cientifico.
Hume estava consciente do paradoxo que acabava de criar. Se alguém concordasse com aquela afirmação, mas aceitou por completo o paradoxo. Não conseguia compreender de forma alguma, a ideia de uma substância contínua, mas ainda assim acreditava que as árvores, as cadeiras e as casas continuavam a existir.
Iluminismo – A época histórica europeia em que os filósofos rejeitaram a autoridade religiosa e colocaram a Razão no lugar de Deus, como autoridade suprema que conduziria a paz e tolerância universais. Este quadro não é inteiramente correcto.
Defende Keith Ward que o Racionalismo, a crença de que existe uma razão para tudo e de que a podemos descobrir através do raciocínio, não é, de modo algum, anti-religioso. Na verdade, todas estas pessoas ( Descartes, Leibniz e Espinosa – XVII e XVIII) pensavam que podiam provar a necessária existência de Deus. É muito natural que um racionalista pense que todo o Universo é produto da Razão, e que é essa Razão senão Deus.
Conclui o autor:
Assim, não é o racionalismo que desgasta a crença em Deus. É precisamente a falta de confiança na Razão que o faz.
David Hume não era um racionalista, apesar de ser uma das maiores figuras do Iluminismo. Era alguém que pensava que a Razão é a “escrava das paixões”, incapaz de provar o que quer que seja.
Nem mesmo Hegel foi o tipo de racionalista por que muitas pessoas o tomam. Apesar de dizer: “ O real é o racional e o racional é real” Mas o mais importante para Hegel, comprender é aprender as coisas através de conceitos, enquanto a Razão é uma faculdade muito mais imaginativa e intuitiva, capaz de conciliar as contradições geradas pela Compreensão, na sua tentativa de pensar a realidade fundamental.
A batalha trava-se entre um cepticismo perante a Razão, que acabou por se confirmar rigorosamente no mundo da observação experimental.
Ironicamente, os dois tipos de cepticismo: um quanto aos resultados da Razão, se limita estritamente à observação empírica, e o outro que não é tão céptico relativamente às limitações da Razão que pode declarar alegremente que “ o coração tem razões que a Razão desconhece” (Blaise Pascal (1623-62) – Pensées).
Pascal é o vencedor em matéria de cepticismo: A Razão não nos pode dizer para nos restringirmos à observação experimental, nem nenhuma outra coisa o pode fazer – especialmente porque, mesmo ao tomarmos esta decisão, não nos podemos fiar em quaisquer experiências.
Mas comentará Kant: A renúncia ao conhecimento cria realmente espaço para a fé. Diz o autor: se tivermos a paixão da fé, por que não a havemos de seguir?
Kant confina 0 conhecimento à experiência e à experimentação. O problema é quando se avança mais… Talvez não se possa viver sem nenhuma delas, uma vez que a ciência nos permite melhorar a Natureza ao ponto de preencher todas as nossas necessidades sem o recurso à fé. Por palavras mais simples, rezar pela ferilidade das colheitas pode ajudar, mas o fertilizante é mais eficiente.
Francis Bacon ( 1561-1626) : a morte da metafísica
Um dos grandes pioneiros na formulação de uma nova abordagem científica da Natureza, escreveu em Proficiência e Avanço da Aprendizagem (1605) que a ciência, ao contrário da filosofia, proporcionava conhecimento cumulativo que era útil para “o alívio da condição social do homem”. A filosofia apenas parece oferecer discussões intermináveis, sem nada que satisfaça a fome e a sede. A ciência estava destinada à vitória. Trazia concórdia, um aumento crescente no conhecimento e, mais tarde, as máquinas a vapor e a televisão, os autoclismos e o pão fatiado.
O raciocínio experimentalista deixa a Natureza despersonalizada, despida de todos os sinais de uma personalidade subjacente, quer sejam deuses gregos, o Deus hebraico, o Motor Imóvel de São Tomás de Aquino ou o Espírito hegliano.
Ayer e as afirmações sobre Deus eram desprovidas de conteúdo. Apesar de estar disposto a considerá-las teorias explanatórias e, por isso, dotadas de sentido, não pensava que elas conseguissem explicar realmente alguma coisa. Se explicarmos um acontecimento, talvez uma trovoada, dizendo “ foi Deus”, não explicamos de facto nada. Enquanto hipótese científica Deus é perfeitamente inútil.
Hipóteses científicas e questões existenciais
Talvez Deus não esteja destinado a uma hipótese científica.
A visão tradicional da Natureza estilhaçada por dois grandes golpes:
Isaac Newton, apesar de ser um crente devoto em Deus, eliminou o propósito da Natureza e submeteu-a a leis impessoais absolutas. Outros lembraram Deus o grande planeador, o relojoeiro cósmico, que tinha dado corda ao Universo.
Charles Darwin – explicou a evolução como um processo de selecção natural que fez com que toda a existência de seres humanos passasse a ser vista como um acidente a escala cósmica, como resultado de milhões de mutações aleatórias, seleccionada pela competição implacável, à custa de milhões de extinções, e de um sofrimento e morte quase universal.

quarta-feira, 15 de abril de 2009

Livros e leituras

Mia Couto
Comecei agora a ler “ Do Amor e outros Demónios” de Gabriel García Márquez e ainda não acabei as Valquírias de Paulo Coelho. O tema desenvolvido deste livro não me cativa muito – um tanto esotérico – de modo que vou lendo aos poucos… Antes dele terminei o Banquete de Platão! Tinha começado a ler “Quando os Lobos Uivam”, um clássico de Aquilino Ribeiro, mas deixei para mais tarde... É um romance interessante cuja escrita exige atenção e um dicionário sempre à mão para descodificar o uso regionalista do seu vocabulário.
Na verdade, gosto de pegar num livro, seja ele romance, ficção, ensaio ou histórico, mas que me dê prazer ler. Além do tema, enredo ou história, que me prenda à leitura, aprecio saborear a prosa. O uso apropriado das figuras de estilo com algumas aliterações, imagens, hipérbatos, metáforas, perífrases e anacolutos… e uma leitura que seja agradável. Um dos escritores portugueses contemporâneos com uma escrita de gosto é Mário de Carvalho.
O último livro que li de uma assentada foi o do escritor moçambicano Mia Couto “ Venenos de Deus, Remédios do Diabo”. Adorei. Já tinha lido outros livros dele como “ A Varanda do Frangipani”, “Cada Homem é uma Raça” e “ Contos do Nascer da Terra”
Conto, romances e ficções de Mia Couto – em minha opinião - transporta-nos até África e envolve-nos na sua magia, tradições e costumes. O escritor é natural da Beira e um africano nato, de cor branca. Conhece muito bem os dialectos moçambicanos e a sua vivência, assim como a cultura e toda a ligação histórica e afectiva dos portugueses a África. Há por isso uma identificação entre os seus povos e nós – portugueses - que nos faz sonhar com África… Depois, escreve de uma forma admirável, com um estilo próprio onde não falta a introdução de alguns neologismos e o uso de uma adjectivação fantástica. A ironia é também uma forma usada nos diálogos onde aparece quase sempre uma presença portuguesa!
“Venenos de Deus Remédios do Diabo”, conta a história de um médico português, Sidónio Rosa, que num congresso em Lisboa conheceu uma mulata moçambicana, Deolinda, e que depois partiu para Moçambique à sua procura. Em Vila Cacimba, encontra os pais dela. Designada por família dos Sozinhos, constituída por Munda e Bartolomeu, velho marinheiro, e o administrador, Suacêlencia e sua Esposinha
O capítulo um do livro começa com a visita do médico à casa de Bartolomeu Sozinho, em Vila Cacimba. À porta tem à sua espera a esposa, Dona Munda, que, no dizer do autor, não desperdiça palavra, nem despende sorriso. É o visitante (o médico) quem arrendonda o momento, inquirindo:
- Então, o nosso Bartolomeu está bom?
- Está bom para seguir deitado, de vela e missal!…
O médico, recém-chegado a África acredita não ter entendido e refaz a questão:
- Perguntava eu, Dona Munda, sobre o seu marido…
- Está muito mal. O sal já está todo espalhado no sangue.
- Não é sal, são diabetes.
- Ele recusa. Diz que se ele é diabético, eu sou diabólica.
- Continuam brigando?
- Felizmente, sim. Já não temos outra coisa para fazer. Sabe o que penso, Doutor? A zanga é a nossa jura de amor.

quinta-feira, 9 de abril de 2009

Os melhores filmes

Os últimos três filmes – O Estranho Caso de Benjamim Button, Quem Quer ser Bilionário e O Leitor, qualquer deles podia ter ganho o Óscar. O Estranho Caso de Benjamin Button tinha tudo para ganhar: A realização, a caracterização, a excelente interpretação de Brad Pitt e também de Cate Blanchett, mas a história, adaptada da obra de F. Scott Fitzgerald, contraria as leis da natureza, é surrealista: um homem que nasce com oitenta anos vai regredindo na idade à medida que o tempo avança. O filme conta pois a história de Benjamin e da sua invulgar “viagem”, das pessoas e lugares que este vai descobrindo ao longo do seu caminho, dos seus amores, alegrias e tristezas… É um grande filme e a sua nomeação para Óscar não é por acaso. No entanto, o filme que vi a seguir, Quem Quer ser Bilionário, gostei ainda mais e elegeria este como o vencedor. Penso que a história, aparentemente simples (concurso de televisão que proporciona milhões…) é envolvente pela sua densidade social e dramatismo do princípio até quase ao fim. Um rapaz de 18 anos, oriundo subúrbios de Bombaim - espécie de “favelas brasileiras,” ampliadas – está apenas a uma pergunta de ganhar a elevadíssima quantia de vinte milhões de rupias no Concurso “Quem quer ser Bilionário”. Incrivelmente, Jamal Malik, vai acertando em todas as perguntas o que levanta suspeitas de fraude…É a partir do interrogatório policial que o jovem Jamal confessa a sua história de vida passada nas ruas e da rapariga de que amou e que perdera. O que estará um rapaz sem interesse pelo dinheiro a fazer num concurso televisivo? E como é que sabia todas as respostas?
Trata-se de um filme inglês, realizado por Danny Boyle com argumento de Simon Beaufay.

Por fim, fui ver “ O Leitor”, The Reader. Este filme foi indicado para o Óscar do ano em cinco categorias: Melhor Filme, melhor Director, melhor Atriz (Kate Winslet), melhor Roteiro Adaptado e melhor Fotografia. Os intérpretes são Kate Winslet, no papel de Hanna, Ralph Fiennes e David Kross, o jovem Michael Berg .O filme foi realizado por Stephen Daldry e baseado no livro do jurista e escritor germânico Bernard Schlink. O história prende-se com a Alemanha do pós-guerra.

Na década de cinquenta, um jovem de nome Michael Berg sente-se mal na rua e abriga-se à entrada de um prédio onde é ajudado por Hanna. Depois de ter recuperado o seu estado de saúde, em casa dos pais, vai à procura da moça para lhe agradecer. Em novos encontros os dois iniciam um caso, praticamente de sexo, excepto as leituras que Michael fazia de livros que trazia da escola.
Certa dia, Hanna decide ir embora e deixa o jovem rapaz de coração abalado. Sete anos depois ele reencontra-a no Tribunal como uma das rés em julgamento por crimes hediondos contra os judeus cometidos por seis mulheres durante a guerra. Este caso de amor entre um jovem adolescente e uma mulher madura esconde um segredo que Hanna não revelara a Michel. Hanna é condenada.
Nas décadas seguintes, Michel já muito mais maduro volta a ser Leitor, agora de forma diferente.
Gostei muito do filme e Kate Winslet mereceu ter ganho o Óscar da melhor actriz. Até o filme o poderia ter ganho!

quarta-feira, 8 de abril de 2009

O cinema

Cinema

Sempre gostei muito de ir ao cinema desde a minha juventude e durante a idade adulta. Depois, houve um período que deixei de ir ou raramente via cinema porque, provavelmente, tive um certo desinteresse e a idade não terá sido alheia a isso (…); por outro lado, os meios audiovisuais, a televisão e os vídeos terão contribuído com a sua quota-parte. Acrescentaria ainda o facto dos edifícios e salas reservadas para este tipo de espectáculos terem sido extintas, em boa parte devida a concorrência das grandes superfícies – Centros Comerciais. Ainda, o aparecimento de novos tipos de filmes mais adequados a época moderna, sobretudo de acção - com predominância para os policiais - e a inevitável substituição dos actores e actrizes - a idade não perdoa -, terão desmotivado bastante. Para os mais clássicos, como eu, a ida ao cinema obedecia a um certo ritual como por exemplo a companhia e a roupa que se levava vestida para a ocasião. Os comentários sobre o próprio filme, sobretudo nos intervalos, também faziam parte desse ritual, quantas vezes associado à bica e ao cigarro. Finalmente, os temas ou enredos, o cenário, os intérpretes, as bandas sonoras, a realização e toda a magia que o cinema nos proporcionava.
Há uns anos a esta parte voltei a ir ao cinema e cada vez estou a gostar mais…
Irei abordar alguns deste filmes no próximo post.