quarta-feira, 15 de abril de 2009

Livros e leituras

Mia Couto
Comecei agora a ler “ Do Amor e outros Demónios” de Gabriel García Márquez e ainda não acabei as Valquírias de Paulo Coelho. O tema desenvolvido deste livro não me cativa muito – um tanto esotérico – de modo que vou lendo aos poucos… Antes dele terminei o Banquete de Platão! Tinha começado a ler “Quando os Lobos Uivam”, um clássico de Aquilino Ribeiro, mas deixei para mais tarde... É um romance interessante cuja escrita exige atenção e um dicionário sempre à mão para descodificar o uso regionalista do seu vocabulário.
Na verdade, gosto de pegar num livro, seja ele romance, ficção, ensaio ou histórico, mas que me dê prazer ler. Além do tema, enredo ou história, que me prenda à leitura, aprecio saborear a prosa. O uso apropriado das figuras de estilo com algumas aliterações, imagens, hipérbatos, metáforas, perífrases e anacolutos… e uma leitura que seja agradável. Um dos escritores portugueses contemporâneos com uma escrita de gosto é Mário de Carvalho.
O último livro que li de uma assentada foi o do escritor moçambicano Mia Couto “ Venenos de Deus, Remédios do Diabo”. Adorei. Já tinha lido outros livros dele como “ A Varanda do Frangipani”, “Cada Homem é uma Raça” e “ Contos do Nascer da Terra”
Conto, romances e ficções de Mia Couto – em minha opinião - transporta-nos até África e envolve-nos na sua magia, tradições e costumes. O escritor é natural da Beira e um africano nato, de cor branca. Conhece muito bem os dialectos moçambicanos e a sua vivência, assim como a cultura e toda a ligação histórica e afectiva dos portugueses a África. Há por isso uma identificação entre os seus povos e nós – portugueses - que nos faz sonhar com África… Depois, escreve de uma forma admirável, com um estilo próprio onde não falta a introdução de alguns neologismos e o uso de uma adjectivação fantástica. A ironia é também uma forma usada nos diálogos onde aparece quase sempre uma presença portuguesa!
“Venenos de Deus Remédios do Diabo”, conta a história de um médico português, Sidónio Rosa, que num congresso em Lisboa conheceu uma mulata moçambicana, Deolinda, e que depois partiu para Moçambique à sua procura. Em Vila Cacimba, encontra os pais dela. Designada por família dos Sozinhos, constituída por Munda e Bartolomeu, velho marinheiro, e o administrador, Suacêlencia e sua Esposinha
O capítulo um do livro começa com a visita do médico à casa de Bartolomeu Sozinho, em Vila Cacimba. À porta tem à sua espera a esposa, Dona Munda, que, no dizer do autor, não desperdiça palavra, nem despende sorriso. É o visitante (o médico) quem arrendonda o momento, inquirindo:
- Então, o nosso Bartolomeu está bom?
- Está bom para seguir deitado, de vela e missal!…
O médico, recém-chegado a África acredita não ter entendido e refaz a questão:
- Perguntava eu, Dona Munda, sobre o seu marido…
- Está muito mal. O sal já está todo espalhado no sangue.
- Não é sal, são diabetes.
- Ele recusa. Diz que se ele é diabético, eu sou diabólica.
- Continuam brigando?
- Felizmente, sim. Já não temos outra coisa para fazer. Sabe o que penso, Doutor? A zanga é a nossa jura de amor.

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