quinta-feira, 19 de março de 2009

Como é bom ouvir falar quem sabe…


Como é bom ouvir falar quem sabe…

De quando em vez, vejo o programa de Paula Moura Pinheiro, câmara clara, na RTP2, que acho extraordinário, quer pela forma como é apresentado quer pelo nível cultural dos convidados.
Neste último programa os convidados foram Adolfo Gutkin e Pedro Feytor Pinto. Feytor Pinto esteve exilado em Espanha, após o 25 de Abril e depois foi viver para Buenos Aires, e Adolfo Gutkin, que nasceu em Buenos Aires, seduzido por Cuba, acaba exilado em Portugal depois do 25 de Abril. Este interessante percurso de vida, de dois políticos inversos - como explica Paula Pinheiro – tem a uni-los o amor a Buenos Aires, as artes e a experiência do exílio. Ouvi-los falar daquela fantástica cidade da Argentina, da sua magia, cosmopolitismo europeu, de Jorge Luís Borges, Horácio Copolla, fotográfo, ou do tango de Astor Piazzola e Carlos Gardel, é um fascínio. Quem diria que um país sul-americano tem livrarias abertas 24 horas por dia!

Encantado com as suas intervenções e informado sobre a exposição gratuita no Centro Cultural de Belém, BORGES, COPPOLA, BUENOS AIRES – fui até lá… Em primeiro lugar, devo dizer que todo o material expostos – as fotografias de Coppola da década de trinta e os vídeos dos filmes alusivos a Borges, Copola e à cidade, havia uma boa sequência. Buenos Aires pareceu-me de facto uma capital europeia, moderna e bastante avançada para as décadas de 30 e 40 do século passado. Desde a arquitectura, dos edifícios ao traçado das ruas e avenidas, já movimentadas fartamente pelo automóvel, aos cafés e esplanadas, bem frequentados por homens de chapéu e mulheres trajadas ao fino gosto da moda. Na cultura, o gosto pela leitura dos jornais, pelos teatros, ópera e cinema; pelas bibliotecas e livrarias, pela música e pelo tango, são o testemunho dado por Horácio Coppola e Jorge Luís Borges. A cidade de Buenos Aires podia muito bem ser qualquer cidade europeia!
Ouvir as entrevistas de Jorge Luís Borges, mesmo que em diferido por vídeo, é o máximo! Transmite-nos não só um profundo conhecimento literário como escritor, ensaísta e poeta, mas também saber linguísticos e formação universalista. Os europeus, e nós também, temos motivo para nos orgulharmos dele. Afinal, ainda que longinquamente, o escritor ainda descende dos portugueses … Fiquei pregado ao ecrã ao ouvi-lo e disse de mim para mim: Isto sim, é literatura, é cultura é sabedoria! Senti-me tão pequeno que a única justificação que encontrei foi esta: Doravante, Borges passará a ser uma das minhas prioridades!

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