quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Os santos da casa…Armando Silva Carvalho


Olho Marinho - Impressão
Ao ler O Livro do Meio, revisitei a aldeia onde nasci, o Olho Marinho e a qual deixei aos 13 anos para vir para Lisboa, também para tratar da vida. Ocorreram entretanto meio século e não obstante o desenvolvimento natural e trazido, em parte, com o 25 de Abril de 1974 (Equipamento social – ATL, Jardim de Infância, Centro Social Cultural/IPSS, Centro de Saúde e a Caixa de Crédito Agrícola ligada a actividade primária) culturalmente, o Olho Marinho continua pobre e isso dá que pensar… Julgo que o Olho Marinho, ficou órfão com a morte de Salazar, a saída ou o desaparecimento de figuras marcantes e tutelares como os professores primários (Roque, Albino ou Carreira), o médico Dr. Campos e o Padre Renato, sem esquecer a União Amigos de Olho Marinho e o seu esforçado trabalho e obras realizadas a partir da Capital (Lisboa).
Apesar da distância em relação ao passado – um pouco mais de quatro décadas – e do desenvolvimento tecnológico, da comunicação e multimédia on line, da globalização da economia, do político e do social actuais, estamos hoje mais pobres, do ponto de vista de identidade cultural e dos valores, do que antes.
Voltando à freguesia do Olho Marinha, constatamos isso mesmo. Depois que o padre Renato de lá saiu, grande parte das actividades culturais e de entretenimento deixaram de existir, por exemplo: jogos de voleibol para os jovens, as caminhadas, jogos de salão e de mesa; a música e o canto, as danças ou bailes; o teatro e as pinturas. Como descreve Armando Carvalho no Livro do Meio: O padre Renato tinha editado na Sasseti várias composições que eu não sabia nem seria capaz de apreciar. Na sua residência, onde dominava uma velha Carlota de bigode, havia um piano apoquentado pelo húmido e pelo desacerto. Mais adiante, acrescenta: O padre Renato, que Deus tem certamente encostado à porta das oratórias mais arrebatadas, ensinava-me solfejo, pintura a óleo em tela natural e alguns conselhos práticos para evitar o pecado.
Também em relação ao seu professor, que no tempo da escola primária era o professor Albino, Armando escreve: O meu verdadeiro professor era filho de um padre que deixou de o ser, e nasceu em Óbidos. O professor Albino (…), devotado católico, deu-nos a todos uma esmerada educação religiosa, além de uma boa instrução primária.
Sobreviveu o Rancho de Olho Marinho, graças ao Mário, o Corneta!
No Início da década de 1940, ou um pouco mais, existia um conjunto – o jazz – de Olho Marinho. Dele faziam parte o meu pai, o meu tio Álvaro, o Arsénio Cozinheiro, o Machadinho e outros mais que não consigo ligar seus nomes. Creio que esse conjunto nasceu devido à carolice, paixão e dedicação de um maestro que nem sequer era natural da terra… Infelizmente, não ouve seguidores…
Refere o Armando Carvalho, no seu livro, que em casa dos Lavaduras não havia biblioteca… E eu interrogue-me se em todo o Olho Marinho havia uma biblioteca naquele tempo. Vou mais longe: existe hoje alguma biblioteca ou museu? – Creio que a resposta é negativa mas a crítica construtiva. Porque não começar a construir uma biblioteca nos espaços existentes no edifico da sede União Amigos de Olho Marinho ou outro onde esteja ou venha a estar instalado o equipamento de Internet? Há jovens que poderão estar interessados em participar activamente na história da sua terra!
As gerações que frequentaram a escola primária a seguir a II Guerra Mundial tinham grandes dificuldades económicas e eram pobres em quase tudo… Eram muitos os miúdos da aldeia que andavam descalços e passavam mal. Concluir a instrução primária era já um avanço… Em Olho Marinho, o exame da 4ª classe era feito em Óbidos, como precisa Armando Carvalho: Quando fiz o exame final da escola primária fui fazê-lo a Óbidos, numa escola baixinha, que havia no largo lá em cima, perto da porta da Cerca.

1 comentário:

  1. Adorei, quem escreve assim devia ir mais longe, como muitos outros "escritores" por aí.

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