segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Os santos da casa…Armando Silva Carvalho

Andar de mota e ajudar à missa
Andar de mota e ajudar à missa também me aconteceu, por volta dos 11 anos, diga-se, contra-à-vontade. O senhor António, sacristão, ressentido com padre, abandonou essa missão e eu, com a anuência dos meus pais, fui empurrado – mal - para o substituir. Não tinha jeito nem vocação. Acompanhei uma vez o padre Renato num funeral e a única coisa que fiz foi levar a caldeirinha com a água benta… Constrangeu-me de tal maneira ver os sapatos rotos do defunto que não aguentei mais olhar para ele, metia-me impressão, até hoje. Nas missas de Domingo ou em dias de festivos (casamentos e baptizados) tocava os sinos e durante a cerimónia, de acordo com a liturgia, mudava o missal de um lado para o outro do altar. O Armando, pelo que conta, parecia gostar de ajudar à missa, embora não quisesse ser padre, dando a entender que por razões económicas: A decisão (…) de frequentar o colégio das Caldas, levou o seu tempo e os seus cálculos. Para Padre, sabia que nunca iria. Toda a gente da aldeia via que o padre nem dinheiro amealhavam para umas meias solas nos sapatos. Quando ele se ajoelhava para erguer a hóstia, deixava que as mulheres avaliassem a sua miséria a começar pelos pés… (ibidem). Também o Artur Correeiro, ainda primo da minha mãe, que estudara no seminário (graças a pia intervenção da Sr.ª D. Eugénia, esposa de D. José Siqueira - da Quinta de Baixo) ajudava à missa quando vinha de férias ao Olho Marinho, em certas ocasiões. Também a vocação Artur, apesar da sua humanidade, não foi suficiente forte para o exercício do sacerdócio. Duas décadas antes (anos de 1930), também o meu tio Álvaro estudou durante seis anos num Seminário e quando vinha férias à Terra as suas preocupações pareciam ser outras. Gostava muito dos bailaricos e até tinha uma bicicleta que usava nas suas deslocações às aldeias vizinhas e nas suas incursões nocturnas. É natural que tenha ajudado uma ou outra vez à missa mas não me lembro da família referir esse facto. Bem pelo contrário, o que se dizia – as vizinhas sobretudo – é que ele não tinha vocação para padre: Ah, Palmira, o teu filho olha muito para as pernas das raparigas… A minha avó, afinava!
Havia porém, já naquele tempo (anos 30 e 40 do século XX), outras actividades como o teatro em que, segundo testemunho oral, o meu tio Álvaro participava com notável desempenho. Não estou a par das actividades culturais da terra mas pelo pouco que me foi dado observar, há um certo abandono e é pena. Contar-se-á, provavelmente pelos dedos de uma das mãos, aqueles que conhecem o percurso literário do Armando Silva Carvalho ou que tenham lido alguma obra sua. Foi por isso, à laia de reflexão, que me atrevi a escrever no blogue que os santos da casa não fazem milagres…


Álvaro (tio)

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