quarta-feira, 12 de maio de 2010

Fronteiras de Integração. Portugal

7 Fronteiras de Integração
A clara predominância masculina na emigração portuguesa resultou inevitavelmente na escolha de mulheres indígenas, independentes da raça ou religião – como parceiras sexuais esporádicas ou mesmo para um relacionamento estável. Antes de 1570, foi na Índia que se verificou um único caso de um programa de iniciativa régia, de defesa aberta de relacionamento intercultural. A pedido de “alguns homens limpos de bem” que pretendiam casar e residir na Índia, Afonso de Albuquerque autorizou o casamento destes portugueses com mulheres locais.
A selecção e os critérios sobre o casamento local são reflectidos em cartas enviadas por Albuquerque a D. Manuel (respectivamente de 22-12-1510 e de 04-11-1514):
«Eu nunca tive devoção de casar homens com estas mulheres malabares, porque são negras e mulheres corruptas em seu viver por seus costumes; e as mulheres que foram mouras, são alvas e castas e retraídas em suas casas e no seu modo de viver, como os mouros desta terra têm por costume, e as mulheres brâmanes e filhas deles também são castas mulheres de bom viver, e são alvas e de boa presença” (Russel-Wood, op, cit, p. 253, Apud Bulhão Pato e Mendonça, 1884-1935:I, cartas VIII, LXXXIV).
Em Dezembro de 1510, Albuquerque escreveu ao rei comunicando que haviam sido efectuados quatrocentos e cinquenta casamentos e que havia oferecido a cada noivo um cavalo, uma casa, terras, gado e um subsídio monetário. As noivas traziam de suas casas ouro e jóias.
A rapidez e o sucesso destas uniões formais, em Goa mas também em Cochim e Cananor, criou opositores a Albuquerque e à sua política. Em Cochim, um monge dominicano opôs-se a esses casamentos.
Afonso de Albuquerque enquadrou a sua política no contexto mais abrangente da integração português: “ Estes que são casados, proveito têm feito até agora, porque nos olhos das gentes da Índia está assentado fazermos nós fundamentos da terra, pois vêem aos homens plantar árvores, e a fazer casas de pedra e cal, e a casar, e ter filhos e filhas”.
O ímpeto foi tão forte que, mesmo sem o apoio oficial, os casamentos funcionaram como um meio para a integração dos portugueses na Índia.

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