sábado, 7 de fevereiro de 2009

Comunidade aldeã

A cultura e os filhos da terra.
Contavam-se pelos dedos de uma das mãos os olhomarinhenses da minha geração formados com grau académico superior. Estou a referir-me as pessoas com idades compreendidas entre os 60 e 70 anos, mais coisa menos coisa. A população de Olho Marinho sempre se dedicou à agricultura, ao campo e à fazenda: andar com a enxada na mão, a cavar, a estonar ou sachar; a plantar, semear ou a regar as batatas e as couves, era o seu dia-a-dia… Nunca havia tempo para nada, nem para estar doente! O meu pai costumava dizer - ironicamente - que o “desporto” dele era o trabalho. A minha avó Palmira trabalhou sempre até morrer e dizia que era preciso “ aproveitar o tempo,” como se ele fugisse… Com uma mentalidade destas, associada a pobreza como é que os seus filhos podiam estudar? – Fazer uma instrução primária, e aqueles que a faziam, já era muito bom! – Apesar disso, ainda houve meia dúzia de famílias que – uns com mais outros menos sacrifícios - puseram os seus filhos a estudar, ainda bem: porque ser trabalhador, pobre, honrado e iletrado é demais… Os homens tinham como divertimento as sobras das tardes de Domingo (trabalhavam no campo 6 ou 7 horas de manhã…) que eram passadas nas tabernas. Jogavam às cartas ou ao chinquilho, mastigavam à conversa uns tremoços e umas pevides, arrematavam pelo meio umas rodadas de tinto por conta dos perdedores… As mulheres casadas cuidavam dos filhos e das lides domésticas!
O Armando Silva Carvalho faz parte dessa geração que estudou e emigrou para a capital. Filho de agrário e pequeno comerciante, nascido em Olho Marinho no ano de 1938. Frequentou a Faculdade de Letras, licenciou-se em Direito e advogou algum tempo. Desenvolve a sua actividade como poeta, ficcionista, jornalista, professor, tradutor, crítico literário e publicitário.Consultando alguns sites na Net, ficamos a saber um pouco mais acerca da actividade literária do Armando. Naturalmente, só através da leitura das suas as obras se conhecerá melhor a sua dimensão cultural. Em qualquer caso, o vago conhecimento da sua existência no campo das letras deverá constituir um motivo de orgulho para a população de Olho Marinho e até do concelho de Óbidos. Aqui fica a referência e esta pequena nota retirada de um site:
Armando Silva Carvalho nasceu na freguesia de Olho Marinho, Óbidos, em 1938. (…). Traduziu autores como Margueritte Duras e Samuel Beckett, Rainer Maria Rilke e Boris Pasternak.Revelou-se como poeta em 1965, com o livro Lírica Consumível, que obteve o Prémio Revelação da Associação Portuguesa de Escritores. Publicou posteriormente O Comércio dos Nervos (1968), Antologia Poética (1976), Armas Brancas (1977), Técnicas do Engate (1979), Alexandre Bissecto (1983) e Canis Dei, em 1995, sendo premiado "ex-aequo” com o Prémio PEN Clube. Em prosa, Armando Silva Carvalho escreveu, entre outros, A Vingança de Maria Noronha, em 1989, sendo agraciado com a Menção Honrosa do Prémio Cidade de Lisboa e, em 2000, O Homem que Sabia a Mar. Com obra publicada em vários países, como Alemanha, Espanha, Itália e Suécia, Armando Silva Carvalho estreou-se na Assírio & Alvim com o livro O Menino ao Colo. Momentos, Falas, Lugares do Sublime Santo António

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