sexta-feira, 29 de maio de 2009

As Conferências de Casino

II
A geração de 70 (continuação...)
A ideia das Conferências de Casino surgira no ano de 1871 no Cenáculo, que “era uma reunião de rapazes”: uma espécie de boémia literária em que se discutia filosofia, letras, política, religião, tudo acompanhado de um berreiro ensurdecedor”.
Em princípio de 1867 ou 1968, em casa do sr. Jaime Batalha Reis, na esquina da Travessa do Guarda-Mor para a Ruas dos Calafates, actual Rua do Diário de Notícias, faziam parte deste primitivo grupo Eça de Queiroz, Salomão Saragga, Batalha Reis, Santos Valente, Mariano Machado de Faria e Maia e José Eduardo Lobo de Moura. Vinham também juntar-se a este grupo e participar nas ruidosas discussões, Augusto Fuschini, José Tedeschi, Fredeirco Filemon da Silva Avelino e o maestro Augusto Machado. Em Novembro de 1968 apresentou-se no Cenáculo Antero de Quental que regressara da Ilha de São Miguel. A influência de Antero era tal que passou a viver, pouco tempo depois, em casa de Jaime Batalha Reis. Conforme nos conta Eça de Queiroz - que já conhecia Antero de Coimbra :
« Enfim, Antero volta a Lisboa, encontra o Cenáculo. Encontra o nosso querido e absurdo Cenáculo instalado na Travessa do Guarda-Mor, rente a um quarto onde habitavam dois cónegos, e sobre uma loja em que se agasalhavam, como no curral de Belém, uma vaca e um burrinho. Entre essas testemunhas do Evangelho e esses dignitários de Igreja, rugia e flamejava a nossa escandalosa fornalha de Revolução, de Metafísica, de Satanismo, de Anarquia, de boémia feroz. Jaime Batalha Reis era o dono do aposento temeroso, e a Via-Láctea, galego ilustre, o seu servo. Via Láctea dormia pendurado, como um paio, da chaminé da cozinha. As suas ocupações não consistiam em escovar ou varrer. A Via- Láctea fora confiada a missão transcendente de espreitar a passagem da ideia ao longo do rio do Espírito, para nos avisar, e nós corrermos e a prendermos na rede rutilante do Verbo. Durante dois anos, cada dia, a hora de sol e a horas de treva, empurrámos nós com fragor a porta da cozinha, e berrámos com ânsia: « Via-Láctea! Via-Láctea! Viste enfim a Ideia Pura boiando na corrente Espiritual?...» E durante dois anos, Via-Láctea, de dentro da chaminé ou de sobre a tampa de um caixote, imutavelmente rosnou com uma dignidade triste: « Num bi nada». Aí Antero apareceu numa fria manhã – e foi aclamado.
Naquela viela de Lisboa ressuscitou então, por um momento, «a encantada e quase fantástica Coimbra».

Sem comentários:

Enviar um comentário