domingo, 10 de maio de 2009

A intimidade de um beijo

Não sei se vou escolher as palavras certas, os substantivos, os verbos e a adjectivação adequada para exprimir o significado do beijo. Não do beijo como troca de afectos entre familiares e cumprimento de amigos - muito importante - mas do beijo entre um homem e uma mulher. Do beijo que envolve uma paixão, um sentimento de amor e um abraço apertado de corpo e alma; de um beijo desejoso da cumplicidade do olhar e apenas o silêncio das palavras. De um beijo que se dá à chegada e à partida, no início e no fim, entre amantes que se amam. De todos os beijos e também do primeiro beijo de amor. Das lembranças de uma melodia e de um poema cantado, de noite ou à luz do dia. Podia ser o primeiro beijo cantado por Rui Veloso:
Recebi o teu bilhete
para ir ter ao jardim
a tua caixa de segredos
queres abri-la para mim
e tu não vais fraquejar
ninguém vai saber de nada
juro não me vou gabar
a minha boca é sagrada

Ou o lindíssimo poema « estrela da tarde», de Ary dos Santos, cantado por Carlos do Carmo:

Era a tarde mais longa de todas as tardes que me acontecia
Eu esperava por ti, tu não vinhas, tardavas e eu entardecia
Era tarde, tão tarde, que a boca, tardando-lhe o beijo, mordia
Quando à boca da noite surgiste na tarde tal rosa tardia

Quando nós nos olhámos tardámos no beijo que a boca pedia
E na tarde ficámos unidos ardendo na luz que morria
Em nós dois nessa tarde em que tanto tardaste o sol amanhecia
Era tarde de mais para haver outra noite, para haver outro dia

Meu amor, meu amor
Minha estrela da tarde
Que o luar te amanheça e o meu corpo te guarde
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza
Se tu és a alegria ou se és a tristeza
Meu amor, meu amor
Eu não tenho a certeza

E para terminar, só mesmo com Vinícius de Moraes:
Como dizia o poeta
Quem já passou por essa vida e não viveu
Pode ser mais, mas sabe menos do que eu
Porque a vida só se dá pra quem se deu
Pra quem amou, pra quem chorou, pra quem sofreu
Ah, quem nunca curtiu uma paixão nunca vai ter nada, não
Não há mal pior do que a descrença
Mesmo o amor que não compensa é melhor que a solidão
Abre os teus braços, meu irmão, deixa cair
Pra que somar se a gente pode dividir
Eu francamente já não quero nem saber
De quem não vai porque tem medo de sofrer
Ai de quem não rasga o coração, esse não vai ter perdão
Quem nunca curtiu uma paixão, nunca vai ter nada, não

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